O Estado do Pará contempla em seu território um dos principais biomas do mundo: a floresta amazônica, com uma rica biodiversidade de fauna e flora. Mesmo com toda exuberância natural, por conta de suas riquezas e espécies raras – tanto de animais quanto de vegetação-, a Amazônia vem sendo atacada e degradada com taxas de desmatamento crescendo a cada ano. Em 2021, houve o pior registro nos últimos 10 anos, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Os dados apontam que mais de 10 mil quilômetros quadrados de mata nativa foram destruídos no ano passado — um crescimento de 29% em relação a 2020, o que equivale à metade do estado de Sergipe, de acordo com análise do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD).
O Estado do Pará abrange parte do Centro de Endemismo Belém, o que equivale a 24,3 milhões de hectares da Floresta Amazônica. E é a região mais ameaçada da Amazônia, onde a floresta original foi reduzida a menos de 28% da área. Segundo o Instituto Peabiru, as terras indígenas e as unidades de conservação atuais juntas não alcançam 3 milhões de hectares (inferior a 12%), e a única unidade de conservação de proteção integral é a Reserva Biológica de Gurupi. Com 300.000 hectares, corresponde a 1,2% da área de Endemismo Belém.
A luta pela preservação da floresta é grande por parte de diversos agentes defensores do meio ambiente. De acordo com estudos do Instituto Peabiru, os poucos fragmentos de floresta primária e secundária ainda existentes estão em propriedades privadas. As áreas protegidas que se encontram dentro das propriedades particulares, conforme previsto na legislação brasileira, abrangem aproximadamente 30% da vegetação nativa total do país (167 milhões de hectares). Mas, sendo assim, a iniciativa privada consegue preservar essas áreas e atuar junto às organizações governamentais no combate ao desmatamento e às atividades ilegais?
A história mostra que sim. Iniciativas de conservação tiveram início ainda na década de 1970 por grupos empresariais que atuam na região. Em 2002, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) foi criado pela WWF Brasil por meio de um inovador arranjo entre governo federal, órgãos estaduais, agentes privados e a sociedade civil. Na Amazônia, diversas iniciativas desenvolvidas por empresas têm combinado a conservação das florestas e o uso sustentável de recursos em suas áreas de reserva, em atividades como ecoturismo, educação ambiental, coleta de sementes e pesquisa científica.
No nordeste do Pará, a Agropalma tem realizado um papel importante na preservação das áreas nativas remanescentes da floresta. Segundo um trabalho da Universidade Federal do Pará (UFPA), a floresta que fica sob a área de responsabilidade da empresa abriga mais de 400 espécies de aves. De acordo com professor Marcos Pérsio, do Instituto de Ciência Biológicas da UFPA, a maioria das espécies ameaçadas de extinção da Amazônia estão na área oriental, que tem um vasto histórico de degradação, com áreas de florestas remanescentes cumprindo um importante papel para a preservação dessas espécies. “Do ponto de vista da conservação ambiental, esses fragmentos de floresta remanescentes são chave para preservação das espécies e a área da Agropalma é extremamente importante para isso”, destaca o pesquisador.
A cientista e coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Patrícia Medici, ressalta, inclusive, que a cultura perene da palma, minimiza o que se chama de efeito de borda nas reservas florestais, ou seja, as palmeiras plantadas ao lado das florestas protegem as bordas das matas contra o fogo, os ventos fortes, a insolação e outros agentes de degradação, além de diminuir o nível de isolamento da área para algumas espécies da fauna. “Por isso, as florestas da Agropalma são de suma importância para a preservação da biodiversidade deste trecho da Amazônia, protegendo uma série de espécies ameaçadas de extinção, como a anta, a onça-pintada e o tatu-canastra”, analisa Patrícia.
A Agropalma vem preservando áreas de florestas nativas ao lado de sua plantação há dezenas de anos. A vigilância traz benefícios à sua plantação e à sociedade. O diretor de Sustentabilidade da companhia, Tulio Dias Brito, reforça que o trabalho de cuidado das áreas protegidas da floresta amazônica faz parte de um grande esforço conjunto de diversas organizações, sejam privadas, governamentais ou da sociedade civil. “A preservação do ecossistema local é uma obrigação legal e moral, pois traz diversos benefícios para a sociedade em geral, como a conservação da biodiversidade, a estabilidade climática e o desenvolvimento científico. Por isso, também incentivamos pesquisas e combatemos qualquer atividade ilegal que possa acontecer em nossas áreas de floresta, porque é a sociedade quem ganha. A área está sob responsabilidade da Agropalma, mas quem ganha é o cidadão paraense, o brasileiro e todos aqueles que, em algum momento, são beneficiados pela preservação da Amazônia”, afirma.
Impacto climático
De acordo com pesquisa realizada pela Conservação Internacional, os manguezais e florestas da Amazônia são essenciais para a estabilidade climática do planeta e devem ser protegidos pela humanidade a fim de evitar uma catástrofe global. Esses ecossistemas contêm o que os pesquisadores chamam de “carbono irrecuperável”, reservas densas de carbono que, se liberadas devido à atividade humana, não poderiam ser recuperadas a tempo de o mundo evitar os impactos mais perigosos da mudança do clima.
O estudo mostra que metade do carbono irrecuperável do planeta está altamente concentrado em apenas 3,3% da Terra, principalmente em florestas antigas, turfeiras e manguezais, todos encontrados na Amazônia. De forma geral, essas vastas reservas de carbono são equivalentes a 15 vezes as emissões globais de combustíveis fósseis lançadas no ano passado. Os principais ecossistemas na bacia fluvial da Amazônia contêm coletivamente 31,5 gigatoneladas (Gt) de carbono irrecuperável – o equivalente a quase três anos e meio de emissões globais de combustíveis fósseis – e têm algumas das maiores concentrações de carbono irrecuperável em todo o mundo. A Amazônia abriga 23% de todo o carbono irrecuperável na Terra, com o Brasil (20,2 Gt) tendo a maior quantidade, seguido de Peru (4,6), Colômbia (4), Venezuela (2,7) e Bolívia (1,3).
“A proteção da Amazônia é de extrema importância para a humanidade, do ponto de vista ambiental, social, econômico e cultural. Assim como as Unidades de Conservação, áreas públicas protegidas, as áreas sob responsabilidade da iniciativa privada também são essenciais para minimizar os impactos negativos da crise climática. Já sabemos que o atual modelo de cultivo da palma no Brasil, onde a produção se dá em áreas que já foram degradadas no passado, contribui para uma produção sustentável ”, ressalta Maurício Bianco, vice-presidente da CI-Brasil.
Caça ainda é realidade na região
A falta de vigilância sob a Amazônia é um incentivo à caça. A atividade é proibida no país desde a década de 1960, mas, mesmo assim, já reduziu a população de várias espécies de animais, elevando o risco de desequilíbrio ambiental. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do Ministério do Meio Ambiente, tem deflagrado operações junto às polícias militares dos Estados para combater o crime ambiental em Unidades de Conservação, pois a caça causa a extinção de animais de grande porte, tais como a queixada e a anta.
A caça pode causar declínios populacionais de espécies importantes. A pesquisadora Patrícia Médici lembra que “um exemplo da problemática causada pela caça humana nas reservas da Agropalma, seria a extinção local da anta, pois é um animal que tem um ciclo reprodutivo muito longo para nascer um único filhote, que é altamente vulnerável aos problemas externos, como predadores e infecções. O impacto da caça, seja para consumo próprio ou para comercialização da carne da anta, provocaria um declínio populacional alto e esses animais dificilmente conseguiriam se reproduzir novamente”, alerta.
Os pesquisadores ouvidos pela reportagem alertam que qualquer tipo de degradação trará sérios impactos negativos ao meio ambiente, com efeitos nocivos ocorrendo local e globalmente, muitos dos quais podem ser irreversíveis.
Fonte: Diário Online