Agricultores familiares de uma comunidade em Moju, no Pará, estão plantando palma em consórcio com a mandioca, numa parceria com a Agropalma, maior produtora de óleo de palma sustentável das Américas. Integradas ao Programa de Agricultura Familiar da Agropalma, 17 famílias da Vila Jutaí plantaram 227 hectares da palmeira que produz o óleo de dendê em sistema agroflorestal e devem começar a colher em 2026.

No contrato de 25 anos a empresa se compromete a comprar toda a produção de dendê, independentemente da variação do mercado. Além disso, financia as mudas e insumos agrícolas para o agricultor começar a pagar depois da primeira colheita e fornece treinamento e acompanhamento sobre as melhores práticas de produção, aliando técnicas de agricultura regenerativa, proteção ambiental e requisitos legais.

Raimundo Nonato Gonçalves Pompeu, presidente da Associação dos Agricultores de Jutaí, diz que a comunidade fundada há quase 50 anos sempre se dedicou à produção agrícola, especialmente de mandioca e pimenta-do-reino, mas até os anos 1990 era preciso andar quase 40 quilômetros a pé para poder vender os produtos e ter acesso aos serviços básicos de saúde.

A situação começou a mudar com uma maior conscientização ambiental da comunidade, que incluiu um acordo com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para encerrar a caça e a pesca na região e devolver a água aos igarapés.

Atualmente, os moradores da Vila Jutaí vivem das culturas de açaí, mandioca, pimenta-do-reino e cacau, mas não possuem mercado garantido para esses produtos. “Hoje plantamos e não sabemos se vamos vender, para quem vamos vender e por qual preço”, explica Pompeu.

Filho de agricultor, ele diz que, desde a fundação da associação em 2005, trabalhava com a ideia de plantar a palma. Foi um dos produtores da vila que firmou contrato com a Agropalma em 2022. Plantou 4.000 plantas em 28 hectares.

Os agricultores escolheram o modelo de consórcio com a mandioca, plantada nas entrelinhas da palma, para custear a produção e garantir uma renda mínima desde o primeiro ano.

A comunidade tem avançado também com outros consórcios com as culturas tradicionais do açaí, cacau e pimenta-do-reino, e começa a produzir mel e própolis. Esses produtos são negociados em feiras e na venda direta para consumidores e atravessadores.

“Temos diversidade, mas nossos produtos não têm mercado garantido. O dendê vem trazer a segurança que nos faltava sem colocar em risco outras culturas no sistema agroflorestal”, diz Pompeu, acrescentando que o mais difícil na cultura do dendê é a limpeza da roça porque se evita o uso de herbicidas, a região é bem chuvosa, o mato cresce rápido e o trabalho é todo manual.

Quem garante uma ponte segura entre a Agropalma e os agricultores familiares da Vila Jutaí é o técnico de agronegócio José Maria Pompeu Leão, nascido e criado na vila. Ele trabalha na Agropalma na prospecção de novas áreas de plantio para a palma e tenta aproximar os agricultores de Jutaí de potenciais compradores das outras matérias-primas que eles produzem.

“Durante minha vida sempre vivi um dilema muito grande entre o amor pela minha terra natal e a vontade de ir embora em busca de uma vida melhor. Mas decidi ficar e tenho buscado ajudar no desenvolvimento da comunidade, primeiro como um dos fundadores da associação e, agora, fazendo o elo com a Agropalma”, conta.

Parceiro

Leonel Oliveira de Souza, de Moju, também é fornecedor de dendê para a Agropalma, mas na categoria agricultor integrado. Ele plantou as primeiras mudas em 2002, sendo um dos pioneiros da cultura na região.

“Eu trabalhava com mandioca, milho e arroz, tudo produto sem garantia de mercado. A Agropalma visitou a área que a gente estava desmatando em 2001 e propôs a parceria para o plantio da palma. Iniciamos com o pé atrás, mas a Agropalma se empenhou e o governo do Estado doou 500 hectares para 50 famílias plantarem a palma. Pegamos um lote e deu muito certo.”

Segundo Souza, na época, ninguém da colônia tinha nem bicicleta e hoje os agricultores só circulam de moto e carro. “Eu não tinha nada em 2001, nem bicicleta, e minha casa era de madeira. Hoje, tenho patrimônio bom, carro, moto e trator. Em 2021 eu ganhei R$ 196 mil livres, ou seja, uma renda média de R$ 12 mil a 13 mil por mês líquidos. Para quem não estudou é bom demais”, diz o agricultor que trabalha com os dois filhos e agora já usa trator para limpar a roça.

Ele vai começar a renovar a plantação em 2027 para melhorar a produtividade e deve plantar a palma agora em consórcio com cacau e mandioca.

Outro produtor integrado é José Raupp da Rosa, que em 2004, incentivado pela Agropalma, trocou a criação de gado pelas palmeiras e em 2019 foi o terceiro colocado no Prêmio Fazenda Sustentável da Globo Rural.

Programa estratégico

“A Agropalma é pioneira na palma para a agricultura familiar. O projeto, que começou com 50 famílias, já ficou cinco vezes maior e estamos trabalhando para sua ampliação. Ele é extremamente estratégico para a empresa, já que 25% da nossa produção vem do trabalho da agricultura familiar e dos produtores integrados”, diz Antonio Jorge Brandão, gerente do Programa de Integração Agricultura Familiar e Produtores Integrados.

Segundo o executivo, nos últimos dois anos, com o cultivo do dendê, as famílias faturaram, em média, R$ 15 mil por mês, valor que representa um aumento de aproximadamente 475% na renda média deles em 15 anos.

Douglas Pimentel da Silva, coordenador agrícola do programa de integração e parceiros, afirma que a Agropalma mantém parceria atualmente com 272 famílias de agricultores familiares, incluindo as da Vila Jutaí, e com 60 produtores integrados que têm área maior que os quatro módulos fiscais da agricultura familiar.

No total, os parceiros cultivam 13 mil hectares. A meta da empresa é chegar a 40 mil hectares cultivados por parceiros em seis ou sete anos e aumentar a participação deles para 50%.

A Agropalma mantém 107 mil hectares no Pará, 64 mil deles de reserva florestal protegida. Dos 39 mil hectares de cultivo próprio, 4 mil são de produção orgânica, voltada ao mercado internacional. A exportação, no entanto, representa menos de 5% do volume produzido pela empresa fundada em 1982 no município de Tailândia, no Pará.

Sustentabilidade

Marco Flavio Picucci, coordenador agrícola responsável pela certificação orgânica da Agropalma, diz que a palma tem a propriedade de regenerar solos degradados e de mitigar os impactos das mudanças climáticas por absorver grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante seu crescimento.

“A Agropalma sempre teve essa visão de sustentabilidade da produção. Implantou o primeiro projeto de agricultura orgânica do Pará que foi certificado em 2000, com 4.000 hectares, e não se opõe a nenhum tipo de consórcio da palma com outras culturas. Agora, os sistemas agroflorestais de produção com a palma, que tradicionalmente é um monocultivo, são uma inovação”, diz.

Em parceria com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e a Universidade Federal de Viçosa, a Agropalma iniciou um estudo para desenvolvimento de sistemas agroflorestais como alternativa para cultivo da palma em escala comercial.

Também está nos planos fazer um diagnóstico junto às instituições certificadoras e parceiras da Agropalma para compreender exigências e tendências relacionadas à adoção de práticas agroflorestais e de manejo da palma alinhadas ao sistema orgânico e aos conceitos de produção sustentável.

Segundo Picucci, todo o plantio próprio da Agropalma é sustentável. A empresa só planta em áreas já existentes, não tem queima, faz cobertura vegetal com leguminosas que fixam o oxigênio e usa o mínimo de herbicida. O controle de pragas e doenças é feito com biológicos.

A produtividade da palma varia de dez toneladas a 35 toneladas por ano e a planta se torna economicamente inviável depois de 25 anos.

Estrutura

A Agropalma processa cerca de 170 mil toneladas por ano e tem seis indústrias de extração de óleo bruto, um terminal de exportação alfandegado, duas refinarias (uma delas em Limeira-SP) e emprega cerca de 5 mil pessoas.

Tem aumentado a produção e o faturamento, mas não revela os números atuais. Em 2021, segundo o relatório de sustentabilidade, a receita bruta foi de R$ 2,3 bilhões e no ano anterior, R$ 1,4 bilhão.

O óleo de palma, gordura mais consumida no mundo, é usado nos setores de alimentos (chocolates, sorvetes, margarina e pizzas, por exemplo), cosméticos (cremes hidratantes e batom), químico (detergente) e na produção de biodiesel, representando mais de 30% do mercado global de óleos e gorduras.

Fonte: Globo Rural – Eliane Silva